Espirros, tosse e congestão nasal. Estes são alguns dos sintomas que podem surgir tanto num caso de constipação quanto numa situação de alergia. 

O problema é que a incorreta identificação da causa dos sintomas pode levar a um tratamento desajustado. A pensar nisso, o Viral questionou uma imunoalergologista sobre quais os sinais que podem ajudar a distinguir uma constipação de uma alergia.

Constipação e alergias: quais as semelhanças e diferenças?

Tanto nas constipações quanto nas alergias, podem existir sintomas de congestão nasal e espirros. É também possível que, em ambos os cenários, haja tosse e fadiga. Em alguns casos, pode acontecer até a garganta ficar dorida ou irritada.

No entanto, há diferenças que podem ser úteis para identificar cada uma das situações. “A questão principal é o tempo”, explica Diana Silva, assistente hospitalar de imunoalergologia no Centro Hospitalar de São João e professora auxiliar de imunologia básica e clínica na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

“As alergias são muito mais prologadas, não passam numa ou em duas semanas. As constipações são autolimitadas, ou seja, melhoram de uma forma relativamente rápida”, continua.

É importante perceber que as constipações e alergias têm origens diferentes. Enquanto a constipação é provocada por um vírus, as alergias são uma “reação anómala e excessiva” do sistema imunológicos quando exposto às proteínas de determinado elemento, como, por exemplo, pó, pelos de animais ou pólen.

“Ambas as situações têm uma base inflamatória. Uma é induzida por uma resposta imunológica alérgica e na outra temos uma inflamação despoletada pelo próprio vírus”, explica Diana Silva.

O muco libertado pelas constipações é também diferente do que caracteriza as alergias: enquanto numa constipação o muco tem uma cor amarela ou esverdeada, nas alergias é transparente e mais líquido.

Outra diferença entre as duas situações é a ocorrência de febre: as constipações podem, em alguns casos, levar ao aparecimento de febre, algo que não acontece num episódio alérgico.

Se sentir “dores musculares, mialgias e dores nas articulações”, é provável que esteja perante uma constipação, uma vez que estes sintomas “não acontecem nas alergias”. As alergias são caracterizadas por prurido nasal e ocular “muito presente”, que pode levar a um lacrimejar mais intenso dos olhos.

Tanto as constipações como os episódios de alergias podem ocorrer em qualquer altura do ano, no entanto, são mais frequentes em determinadas épocas. As constipações, por exemplo, são mais comuns durante o inverno, quando as pessoas dão primazia aos espaços fechados. Já as alergias aumentam na primavera e no outono.

“Se passar um mês inteiro ‘constipado’, não é uma constipação. São alergias”, afirma Diana Silva.

Caso os sintomas se prolonguem no tempo e o paciente não consiga identificar a causa, é aconselhável que procure um médico para realizar um diagnóstico da doença e, posteriormente, iniciar o tratamento mais adequado.

Como tratar as constipações e as alergias?

Por terem origem diferentes, também o tratamento das constipações e das alergias deve ser diferente.

Como já foi explicado anteriormente, as constipações são autolimitadas, por isso os fármacos utilizados têm como objetivo reduzir os sintomas.

Para episódios de febres ou dores musculares pode-se utilizar “fármacos antipiréticos e anti-inflamatórios” e deve-se “beber muita água e descansar”. 

“Geralmente a utilização de fármacos antivíricos não está indicada”, afirma a imunoalergologista.

No caso das alergias, a primeira coisa a fazer é tentar evitar a exposição ao agente alergénico. 

Em crianças, deve-se consultar um médico especialista em imunoalergologia para perceber quais os elementos que espoletam os episódios alérgicos e proceder ao tratamento adequado. 

Nos adultos – e tendo em conta que se trata de uma situação crónica – é comum que os pacientes conheçam os agentes que despertam os episódios alérgicos.

Existem opções farmacológicas que ajudam a reduzir os sintomas. “A utilização de medicamentos antialérgicos – os chamados anti-histamínicos – vai diminuir os efeitos das alergias, nomeadamente a comichão, o prurido e a rinorreia”, aconselha a médica. 

Pode também “utilizar sprays nasais com corticoide tópico nasal e gotas oculares com hidratantes e anti-histamínicos”, acrescenta.

Diana Silva destaca a importância dos tratamentos para as alergias, nomeadamente a imunoterapia com antialérgicos. 

“Esta ‘vacina das alergias’ tenta prevenir que os sintomas ocorram, faz um ‘reset’ ao sistema imunológico para que ao identificar um elemento alergénico não reaja exageradamente e o trate com normalidade”, explica.

Por fim, a especialista aponta que não é normal “estar sempre constipado” e que “há um tratamento que pode melhorar a vida dos pacientes e que é adequado a cada um.”

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